O amor percorre Quilómetros

Foto: Bruno Amorim_Ponta do Ouro, Moçambique, 10/08/2019

Há já algum tempo que quero partilhar esta história que me espanta pela coincidência dos encontros. Encontros que acontecem e que põem em evidência o impacto positivo que uma pequena amiga tem nas vidas daqueles com quem interage. Sei que ela está numa batalha difícil mas que não a impede de ser uma embaixatriz do amor, amor em movimento, que percorre quilómetros, espalha o seu brilho e regressa a casa.

Ouçam só:

No ano passado tivemos um convite para ir a um casamento de um grande amigo a Moçambique e fomos em agosto. Foi uma viagem fantástica, num país incrível, que nos proporcionou experiências maravilhosas e oportunidades para conhecer muita gente nova e interessante.

Uma das pessoas que conhecemos, logo no primeiro dia de viagem, foi a F. houve de imediato empatia, em particular com a V., mas também entre mim e ela se estabeleceu uma comunicação rica em partilhas. A foto que acompanha este texto foi tirada no dia do casamento dos nossos amigos. Nela podemos ver a V., vestida com o bonito vestido que a avó lhe fez para a ocasião, e a F. a conversarem e a olharem para o esplêndido mar da Ponta do Ouro.

Um dia, já em Maputo, numa dessas conversas generosas, falamos sobre a importância da escola e de como esta tem tanto impacto nas crianças. Falei-lhe de como estava satisfeita com a escola da V. por perceber que os valores de respeito, amor e integração eram verdadeiramente aplicados. E em jeito de exemplo, falei-lhe de uma menina que andava na escola e se chamava Anocas e eis quando a F., ainda incrédula de espanto me diz: “-Ahhh eu conheci essa menina. Eu conheci a Anocas…Cruzamo-nos no Porto um mês antes de eu vir para Moçambique, em circunstâncias muito importantes para mim…” Aqui vai a história dela relatada e escrita pela própria:

“Estava na mercearia a fazer compras quando recebi a notícia de que o meu pai estava doente. Por muito que soubesse que a probabilidade do diagnóstico se confirmar era alta, não há como receber a confirmação sem que a tristeza a acompanhe. A tentar conter as lágrimas, e do jeito mais natural possível, apressei-me para pagar. Queria sair dali e chorar toda aquela dor sem que ninguém me visse. Ao chegar à caixa uma menina olhou para mim e soltou um alto e vivo:

– Olá! Como te chamas?

Com pouca energia e os olhos vidrados de água respondi-lhe – O meu nome é Francisca, e o teu?

– O meu nome é Ana, mas toda a gente me chama Anocas!

– E quantos anos tens Anocas?

– Tenho 13 e tu?

– Eu tenho 30.

– Ah, não és muito velha – e muito alegre continuou – Sabes… Todos temos uma criança dentro de nós, e devemos ser felizes todos os dias. Eu sou feliz todos os dias!

Naquele momento não consegui mais conter as lágrimas. Só que aquela água que me escorria pela cara já não era de tristeza e dor, as palavras da Anocas tinham-na transformado em amor e esperança. Despedi-me dela e saí da mercearia. Olhei para o céu e agradeci pelo encontro com aquele anjo, que não durou mais de dois minutos mas que me marcou para todas as minhas vidas.”

SANDRA MESTRE COSTA

 

2 Comments

  1. A AVENTURA na Pediatria Oncológica da Anocas – e minha! – começou em 2008…com apenas 2 anos… Volvidos uns 3 anos, vários Médicos e Terapeutasde Medicina Integrativa começaram a dizer-me que a Anocas era “Amor em Movimento”… Relatos como este mostram que a probabilidade desta designação estar correcta é muito alta❣️

    OBRIGADA pela coragem de a relatar, de a expor e sobretudo de “repararem” na Anocas 🙏💞

    Alexandrina Pinto (Mãe da Anocas)

    1. Como não reparar e estar receptivo e permeável ao amor. Uma história bonita de gente bonita, e tão bem relatada pela amiga Sandra.
      Grata e privilegiada por me cruzar com esta historia e este amor em movimento.

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